As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte global, com mais de 400 mil óbitos anuais no Brasil, de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Esse número alarmante representa um óbito a cada 90 segundos, ou seja, 46 mortes por hora, superando todas as causas de morte, incluindo câncer, problemas respiratórios, violência e acidentes de trânsito.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), as doenças cardiovasculares (DCV) são a primeira causa de morte no mundo. Cerca de 17,9 milhões de pessoas morreram por DCV, representando 32% de todas as mortes globais em 2019. Por isso , a prevenção e a detecção precoce são pontos-chave na abordagem de qualquer paciente.
Entretanto existem vários mitos e verdades sobre a saúde cardiovascular e quais são as estratégias realmente eficazes para prevenção de um ¨ataque cardíaco¨ ou um ¨derrame cerebral¨. Destacamos a seguir alguns mitos sobre prevenção e saúde cardiovascular:
1. Somente pessoas idosas têm doenças cardiovasculares – MITO
Doenças cardiovasculares podem afetar pessoas de todas as idades. É claro que a maioria das doenças cardiovasculares são mais prevalentes em idosos, como a hipertensão arterial e as doenças aterotrombóticas, principalmente a doença aterosclerótica coronariana. As hospitalizações por doenças cardiovasculares são mais prevalentes em idosos. Entretanto, estas doenças cardíacas aterotrombótica e a hipertensão arterial, apresentam suas formas subclínicas, antes dos 50 anos de idade. A maioria dos fatores de risco cardiovascular já existem na juventude, tais como o tabagismo, sedentarismo, dietas ¨aterogênicas, e fatores genéticos. Nos últimos anos, tem-se destacado na literatura médica, o estudo de doenças cardiovasculares aterotrombóticas, em indivíduos não idosos.
2. Mulheres não sofrem tanto de doenças cardiovasculares como os homens – MITO
As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte também entre as mulheres. Embora essas condições apareçam mais tarde devido à proteção hormonal, as mulheres têm 50% mais chances de morrer devido a um infarto comparado aos homens, de acordo com o Ministério da Saúde.
3. A dor no peito (dor torácica) é o único sintoma de um infarto – MITO
Infartos podem manifestar-se através de sintomas variados como falta de ar, fadiga, dor no braço esquerdo, nas costas ou na mandíbula. Nem todos os infartos apresentam dor no peito e nem toda dor torácica é de causa cardíaca. Palpitações, dispnéia (falta de ar), fadiga, síncope e edema são outros sintomas de doenças cardiovasculares. Em idosos, a angina ou o infarto agudo do miocárdio podem se manifestar por dor no ombro esquerdo ou dor mandibular, completamente sinais e sintomas atípicos de um infarto. Dor epigástrica aguda pode ser causada por infartos.
4. A alimentação saudável é essencial para evitar doenças cardiovasculares – VERDADE
Uma dieta balanceada é crucial para controlar colesterol, pressão arterial e níveis de açúcar no sangue. Dietas ricas em gorduras saturadas e alimentos ultraprocessados podem elevar o risco cardiovascular. Reduzir o consumo de açúcares e carboidratos refinados é fundamental para prevenir doenças cardíacas.
5. A prevenção cardiovascular é primária, quando o indivíduo ainda não apresentou um evento cardiovascular importante – VERDADE
Acontece que muitos indivíduos que ainda não têm história de doenças cardíacas, na verdade, são e estão em alto risco cardiovascular. Estes indivíduos precisam de um ¨check-up¨ cardiovascular e modificações importantes em seus estilos de vida, avaliação de seus fatores de risco coronarianos, tais como, colesterol sanguíneo elevado, hipertensão arterial, tabagismo, obesidade, sedentarismo, diabetes mellitus e outros. Cerca de 25% dos indivíduos hipertensos não sabem que são, assim como diabéticos que não sabem que são e muitos não têm idéia que estão em alto risco cardiovascular.
6. A estratégia ¨mágica¨ do check-up cardiovascular é a estratificação do risco cardiovascular – VERDADE
Procure seu cardiologista para avaliar seu ¨escore¨ de predição para futuros eventos cardiovasculares. Os escores modernos classificam seu risco cardiovascular em baixo, intermediário, alto e muito alto. Após a avaliação de seu escore de risco cardiovascular, seu cardiologista irá propor metas terapêuticas não farmacológicas e medicamentosas que irão evitar que você venha a ter, numa perspectiva de 10 anos, um evento cardíaco aterotrombótico.
7. Há uma tolerância para o uso de cigarros e vape que não afeta a saúde do coração – MITO
Tanto o tabagismo quanto o uso de vapes são relevantes para a saúde cardiovascular. A fumaça do cigarro e os vapores dos cigarros eletrônicos contêm substâncias nocivas que podem causar danos aos pulmões e ao sistema cardiovascular. Além disso, vários cânceres têm como fator de risco o tabagismo.
8. Existem vários tipos de prevenção cardiovascular primária muito importantes – VERDADE
Claro que existem. Temos a avaliação pré-participação em esportes e atividades físicas ocupacionais extenuantes, a avaliação das gestantes com cardiopatia, com acompanhamento para que não aconteça eventos cardiovasculares à mãe e ao feto, temos a avaliação de risco cardíaco pré-cirúrgico e outras. Por último, lembrar que algumas cardiopatias são herdadas, como as síndromes arrítmicas, miocardiopatias, hipercolesterolemia familiar e/ou congênitas, e estes pacientes necessitam de diagnósticos precisos e acompanhamentos durante toda as suas vidas.
9. A prevenção cardiovascular é secundária, quando o indivíduo teve um ¨ataque cardíaco¨ ou outro evento cardiovascular ¨aterotrombótico¨ e necessita de estratégias farmacológicas e não farmacológicas para não ter novos eventos cardiovasculares – VERDADE
A prevenção cardiovascular secundária visa evitar que a aterosclerose progrida no organismo do paciente, evite novos eventos cardiovasculares e permita que ele tenha uma qualidade de vida, às vezes, até melhor do que antes do ¨ataque aterosclerótico¨.
10. Depois de enfartar, não se pode mais praticar exercícios físicos – MITO
– Após a recuperação, a prática de exercícios físicos é recomendada e deve ser feita de forma gradual e orientada por profissionais de saúde. Um programa de reabilitação cardíaca deve ser adaptado às necessidades individuais para garantir segurança e eficácia. Atualmente existem programas de reabilitação cardíaca supervisionado e não supervisionado (não precisa ser em centros de reabilitação cardíaca, academias), que mostraram eficácia em prevenir novos eventos cardiovasculares, e todos eles incluem o condicionamento físico como um elemento fundamental neste tipo de reabilitação.
■ Dr. Paulo Fernando Cardio
Belo Horizonte/Minas Gerais/Brasil
www.drpaulofernandocardio.com.br